O PODER DAS PALAVRAS
Apesar de existir, desde 1948, uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, o que os factos demonstram, é que esta não passa de uma Declaração de Boas Intenções relativamente aos Direitos Humanos. Não falta no Mundo quem se aproveite da retórica da denúncia do etnocentrismo de matriz ‘ocidental’ para descredibilizar a luta pela defesa dos Direitos Humanos. Também não falta, nos países de matriz cultural ‘ocidental’ quem hipocritamente usurpe a retórica da defesa dos Direitos Humanos para fins alheios à defesa dos Direitos Humanos, enquanto cinicamente se cala quando a defesa dos Direitos Humanos se torna incompatível com outros interessas, menos elevados na hierarquia dos valores, mas porventura mais úteis na perspectiva do poder político.
Mas, verdadeiramente, quem é que se importa com os Direitos Humanos? A maioria das pessoas, tendo de si mesmas a imagem de cidadãs honestas, facilmente relativisa ou diminui a importância de defender os Direitos Humanos, uma vez que estas pessoas não se imaginam a si próprias numa posição em que os seus Direitos Humanos possam ser ameaçados, e por isso têm tendência a aceitar que os Direitos Humanos de outrém possam ser violados se for para benefício da sua própria segurança.
Quantas são as pessoas capazes de por em causa o seu bem estar, e mais ainda a sua segurança ou a sua vida para defender a integridade dos direitos de outras pessoas?
São muito poucas, mas existem, e não faltam registos dos seus feitos. São estas, verdadeiramente, as pessoas que lutam contra o espírito de manada.
É a esta pequena minoria que se deve uma grande parte dos progressos que a comunidade humana tem feito: na luta contra a escravatura, pela abolição da pena de morte, pela igualdade entre homens e mulheres, contra o racismo e todo o tipo de discriminações, pelo reconhecimento da dignidade de cada cultura em particular, etc.
Nenhum de nós pode afirmar com certeza que pertence a esta minoria senão quem já foi testado até ao limite e conseguiu permanecer fiel. Muitos de nós gostamos de acreditar que pertencemos a esta minoria. Alguns de nós esforçamos-nos por sermos dignos de pertencer a esta minoria.
Nenhum de nós pode, individualmente, aspirar a transformar um sistema internacional cuja engrenagem está construida de tal forma que, para funcionar ‘eficaz e eficientemente’ não hesita em sacrificar, pelo menos como collateral dammage, a possibilidade de uma existência digna daqueles que, por infortúnio ou deliberadamente colocam entraves ao seu funcionamento.
Individualmente, pouco podemos fazer. Mas podemos fazer algo. Em primeiro lugar, podemos persistir em acreditar, mesmo contra todas as evidências, que podemos, mesmo individualmente, ser, um dia, agentes de mudança. E, como corolário desta atitude, enquanto esse dia não chega, podemos fazer um esforço por nos lembrarmos e por não cedermos.
Tudo isto são meras palavras, bem sei, e as palavras valem muito pouco, sobretudo as palavras bem-intencionadas têm uma valor irrisório, mesmo quando são ditas com sinceridade. Muito mais conta a acção.
Acontece que, mesmo assim, as palavras valem alguma coisa, para o bem e para o mal, porque a violação dos Direitos Humanos começa sempre pelas palavras, pelo incitament ao ódio, por uma sentença injusta, por uma calúnia. E a sua denúncia tem nas palavras a sua principal, senão mesmo a única, arma.
Quando, levados por um natural sentimento de revolta, desejamos a alguém a pena de morte, estamos a permitir que, subtilmente, se instale em nós uma erva daninha que muitos gostariam de ver crescer. Quando aceitamos que há povos superiores a outros, que há povos que merecem ser punidos colectivamente, esquecemos que os justiceiros de hoje podem ser os nossos carcereiros de amanhã. Quando, ingenuamente repetimos os discursos que os (de9formadores de opinião lançam para legitimar a actuação não consentânea com o núcleo básico de valores que dá conteúdo aos Direitos Humanos, estamos a ser complacentes, e a atentar contra a nossa própria dignidade enquanto seres dotados de razão.
Por isso, não embarquemos na promessa de soluções fáceis para os nossos problemas, nem acreditemos em salvadores da pátria, não defendamos males menores, nem políticas de facto consumado.
A denúncia da hipocrisia do discurso politicamente correcto é fundamental para acordar os espíritos anestesiados. Se para isso temos de ser agressivos nas palavras que escolhemos, então sejamos prudentes, escolhamos com critério, para que não nos confundam com aquilo que não somos, ou com aquilo que não queremos ser. Para que não nos confundam com a manada.
Pode parecer bonito, tudo o que acabei de dizer. O mais provável é que pareça mais um discurso hipócrita, cheio de frases feitas, de chavões politicamente correctos, e de boas intenções para auto-consumo.
Mas tudo começa nas palavras, e quanto às acções que dão consistência às palavras, cada um sabe de si, e cada um responde perante a sua consciência. Desde que tenha consciência.
Mas, verdadeiramente, quem é que se importa com os Direitos Humanos? A maioria das pessoas, tendo de si mesmas a imagem de cidadãs honestas, facilmente relativisa ou diminui a importância de defender os Direitos Humanos, uma vez que estas pessoas não se imaginam a si próprias numa posição em que os seus Direitos Humanos possam ser ameaçados, e por isso têm tendência a aceitar que os Direitos Humanos de outrém possam ser violados se for para benefício da sua própria segurança.
Quantas são as pessoas capazes de por em causa o seu bem estar, e mais ainda a sua segurança ou a sua vida para defender a integridade dos direitos de outras pessoas?
São muito poucas, mas existem, e não faltam registos dos seus feitos. São estas, verdadeiramente, as pessoas que lutam contra o espírito de manada.
É a esta pequena minoria que se deve uma grande parte dos progressos que a comunidade humana tem feito: na luta contra a escravatura, pela abolição da pena de morte, pela igualdade entre homens e mulheres, contra o racismo e todo o tipo de discriminações, pelo reconhecimento da dignidade de cada cultura em particular, etc.
Nenhum de nós pode afirmar com certeza que pertence a esta minoria senão quem já foi testado até ao limite e conseguiu permanecer fiel. Muitos de nós gostamos de acreditar que pertencemos a esta minoria. Alguns de nós esforçamos-nos por sermos dignos de pertencer a esta minoria.
Nenhum de nós pode, individualmente, aspirar a transformar um sistema internacional cuja engrenagem está construida de tal forma que, para funcionar ‘eficaz e eficientemente’ não hesita em sacrificar, pelo menos como collateral dammage, a possibilidade de uma existência digna daqueles que, por infortúnio ou deliberadamente colocam entraves ao seu funcionamento.
Individualmente, pouco podemos fazer. Mas podemos fazer algo. Em primeiro lugar, podemos persistir em acreditar, mesmo contra todas as evidências, que podemos, mesmo individualmente, ser, um dia, agentes de mudança. E, como corolário desta atitude, enquanto esse dia não chega, podemos fazer um esforço por nos lembrarmos e por não cedermos.
Tudo isto são meras palavras, bem sei, e as palavras valem muito pouco, sobretudo as palavras bem-intencionadas têm uma valor irrisório, mesmo quando são ditas com sinceridade. Muito mais conta a acção.
Acontece que, mesmo assim, as palavras valem alguma coisa, para o bem e para o mal, porque a violação dos Direitos Humanos começa sempre pelas palavras, pelo incitament ao ódio, por uma sentença injusta, por uma calúnia. E a sua denúncia tem nas palavras a sua principal, senão mesmo a única, arma.
Quando, levados por um natural sentimento de revolta, desejamos a alguém a pena de morte, estamos a permitir que, subtilmente, se instale em nós uma erva daninha que muitos gostariam de ver crescer. Quando aceitamos que há povos superiores a outros, que há povos que merecem ser punidos colectivamente, esquecemos que os justiceiros de hoje podem ser os nossos carcereiros de amanhã. Quando, ingenuamente repetimos os discursos que os (de9formadores de opinião lançam para legitimar a actuação não consentânea com o núcleo básico de valores que dá conteúdo aos Direitos Humanos, estamos a ser complacentes, e a atentar contra a nossa própria dignidade enquanto seres dotados de razão.
Por isso, não embarquemos na promessa de soluções fáceis para os nossos problemas, nem acreditemos em salvadores da pátria, não defendamos males menores, nem políticas de facto consumado.
A denúncia da hipocrisia do discurso politicamente correcto é fundamental para acordar os espíritos anestesiados. Se para isso temos de ser agressivos nas palavras que escolhemos, então sejamos prudentes, escolhamos com critério, para que não nos confundam com aquilo que não somos, ou com aquilo que não queremos ser. Para que não nos confundam com a manada.
Pode parecer bonito, tudo o que acabei de dizer. O mais provável é que pareça mais um discurso hipócrita, cheio de frases feitas, de chavões politicamente correctos, e de boas intenções para auto-consumo.
Mas tudo começa nas palavras, e quanto às acções que dão consistência às palavras, cada um sabe de si, e cada um responde perante a sua consciência. Desde que tenha consciência.
1 Comments:
curiosa visão das coisas. mas tu simpatizas com os sérvios... LOL LOL LOL. dois pesos duas medidas.
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