sexta-feira, agosto 05, 2005

Recordando Jorge Amado



Há quatro anos, este foi o último dia inteiro de Jorge. Amado e lido por tantos. Acabou o curso de Direito sem nunca procurar o diploma, num país onde se vai sempre buscá-lo mesmo sem frequentar o curso. Partiu da vida sem querer caixão. Quis ser apenas cinza à sombra de uma mangueira, no seu quintal.

A seis de Agosto deu à eternidade os quatro dias que ainda eram seus até aos 89 anos.

Apreenderam-lhe e queimaram-lhe livros na praça pública. Sofreu a prisão e o exílio mas nunca deixou que lhe aprisionassem a alma ou lhe roubassem os sentidos que guardou para o sortilégio do amor, a vertigem do desejo e a paixão da escrita.

Levou o país do carnaval às terras do sem fim, ao mundo todo, nas páginas dos seus livros. A sua vida foi navegação de cabotagem circum-navegando o povo brasileiro para quem foi, também ele, um cavaleiro da esperança a sonhar searas vermelhas nos subterrâneos da liberdade.

Percorreu a vida, cumprindo-se. Amou. Amou profundamente. O corpo feminino. As mulheres. A vida. Capitão de longo curso a navegar a língua portuguesa através dos livros a que aportou. Viajou com meninos pobres, capitães da areia, ladrões, bêbados, prostitutas, bandidos, em repetidas viagens pelo sertão infestado de coronéis, donos de fazendas e de gente, de cacau e de café, de jagunços e honrarias, de garimpo e engenhos.

Jorge sabia o valor da mestiçagem, sabia que no amor, como na vida, é boa a diferença e sabe bem. Alimentou-o o desejo, ardente fixação no corpo feminino, desejo de que ainda tinha fome quando já não podia amar.

Em Salvador vinha-lhe da baía o cheiro a mar que o inebriava e da terra a força telúrica que o acompanhou. Foi lá que tantas vezes fez da palavra arma e dos seus livros a carabina que empunhou ao serviço das causas que defendeu. Foi lá que a tocaia grande o apanhou. Ao grande Obá.

Levou do banquete da vida um quinhão largo mas deixou abundantes e gostosas vitualhas na mesa da literatura, 44 livros sobre a toalha.

Partiu feito cinza para a sombra da árvore que plantou. Iemanjá ficou com ciúmes no mar de S. Salvador da Baía de Todos os Santos. Vestida de água, disponível para ele. Jorge preferiu a terra do porto a que o ligavam as amarras da vida. E por lá ficou. A imaginar os negros da Baía a dançar candomblé à volta da mangueira. Com Orixás a velar. À espera de Zélia. Faz quatro anos.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

BASTONADAS, ZE DO TELHADO, BACORINHO, EVARISTO...DEFENDAM O PORKO DO ASSALTO DOS BLOQUISTAS! EU SOU EU, NUM SITIO QUE ESTÁ ISOLADO, PORRA! A SONIA É QUEM É!JÁ CONFIRMEI AO CÃOPRETO POR EMAIL A AUTENTICIDADE DOS COMENTÁRIOS! SALVEM O PORKO DO LOUÇÃ! FODA-SE! 2ª TOU DE VOLTA, MAS ESTE PORCO PROVOCA CÓLICAS! FODA-SE!

10:22 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

ISTO NÃO TEM NADA A VER COM ESTE POST DO MEU TUTOR ESPIRITUAL, o CARLOS. livro preferido do jorge amado: CAPITÃES DA AREIA.

11:49 da manhã  
Blogger cãorafeiro said...

Tereza baptista Cansada de guerra é a minha personagem feminina preferida.

Jorge Amado é um dos meus escritores preferido, só não digo que é O preferido, porque não consigo eleger um.

A maneira como jorge amado retrata o quotidiano do seu brasil, como retrata a vida dos pobres, os costumes do povo, as agruras da vida, as ambiguidades, as hipocrisias da sociedade, mas ao mesmo tempo a dignidade que imprime a personagens como tereza baptista, não têm paralelo.

3:16 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home