sexta-feira, agosto 12, 2005

DILEMAS.

Palmira da Silva, levantou ontem, num pertinente post publicado no Diário Ateísta, a questão : ao que parece, a nova constituição iraquiana, no seu artigo 14º., coloca em causa direitos das mulheres, salvaguardados pela anterior constituição interina, imposta pelo ocupante, o exército e a administração neocolonial norteamericana. Defende Palmira que, todos nós, devemos apelar à ingerência americana como forma de evitar a aprovação do polémico artigo. Não discuto, aqui, a bondade dos argumentos e das preocupações expressas. Mas sei que a nova constituição está a ser escrita por aqueles que o povo iraquiano, numa manifestação de coragem que surpreendeu tudo e todos, escolheu em eleições livres, democráticas e fortemente participadas. E aqui reside o meu dilema. Devo, eu, ter o direito de impor a minha opinião à vontade de um povo, manifestada nas urnas, no seu próprio país? Não estou eu, com esta tomada de posição, a sancionar as tropelias de bush ao direito internacional que estão na base de uma invasão ilegal a um país? Não estou eu a ser cúmplice da política neocolonial e imperial, agressiva e despótica de bush? Que conceito tenho eu de democracia? Só respeito a vontade de um povo quando esse povo vota de acordo com o que penso, sinto? Onde começa e acaba o direito nascido pelo voto popular? Quem nos elegeu como decisores da vontade alheia? A democracia abriu muitas vezes as portas do poder aos seus piores inimigos. Mas não será esse o risco que temos de enfrentar na defesa acérrima do melhor dos piores sistemas de governação? Pessoalmente comungo das preocupações da Palmira. Mas não posso assinar uma petição que pretende sobrepor-se à vontade expressa, em condições terríveis, pelos iraquianos, nas urnas. Nem posso caucionar a política de bush escrevendo à condolezza rice. Os iraquianos não precisam de tutores e têm de conseguir seguir o seu caminho. Como nós, tão mal, escolhemos o nosso em 1975-1976. Cada povo é responsável pelo futuro que escolhe. Mas estarei sempre solidário com todos aqueles e aquelas que forem vítimas de abusos e violações dos direitos humanos. Fica lançado o tema. Visitem o post. Comentem.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

a sharia pode ser um problema tbém para os homens...não foi feita a pensar nas mulheres. e a aplicação não é igual em todo o lado. veja-se o irão ou os tallibans. mas é complicado. nada como a separação do político e religioso. mas os americanos já interviram demais.

12:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

eu percebo mas não entendo a Palmira. e não concordo. mas ela até tem razão. é muito difícil, especial para as mulheres.

2:58 da tarde  

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